Teoria da Distância Transaccional
(Michael Moore)
“Manipulando-se os meios de comunicação é possível ampliar o diálogo entre alunos e seus professores e assim reduzir a distância transaccional.”(Michael G. Moore,2002)
O Ensino Aberto a Distância é um modelo educativo que proporciona aprendizagem sem limites de “espaço ou de tempo” (anywhere, anytime), pressupondo uma separação geográfica e temporal entre professores/ alunos e recorrendo à tecnologia como instrumento mediador da aprendizagem.
Tem como objectivo promover a educação nos locais e horários mais convenientes ao aluno (Moore e Kearsley, 1996).
Ao longo da história do Ensino a Distância, o conceito de “distância” tem sido alvo de inúmeras discussões. Keegan (1993) dá-nos uma compilação das diferentes perspectivas desta matéria em “Teoretical Principles of Distance Education” (Teoria da Distância Transaccional de M. G. Moore).
O conceito de “transacção” foi definido por Dewey (Dewey e Bentley, 1949), como “a interacção entre o ambiente, os indivíduos e os padrões de comportamentos, numa dada situação”.
Desta forma, a transacção a que chamamos de “Educação a Distância”, ocorre entre professores e alunos num ambiente cuja característica fundamental é a separação física e geográfica. Separação essa que conduz a padrões e comportamentos específicos, que afectam, quer alunos, quer a aprendizagem, tendo inclusivamente subjacentes potenciais mal entendidos entre instrutor e aluno.
“A transacção” surge, por conseguinte, num espaço psicológico e comunicacional, que urge ser transposto.
Michael Moore, baseando-se nas teorias de Peters (industrialização) e Wedemeyer (aprendizagem independente) propôs uma teoria unificadora, mais tarde designada por teoria da distância transaccional.
Esta teoria baseia-se no postulado de que a distância é uma questão pedagógica mais do que física. Com efeito, o que interessa avaliar é quais as consequências práticas da distância no processo educativo, nos alunos, nos professores, na interacção, na administração, etc. Assim, “...esta distância é a distância da compreensão e percepção causada pela distância geográfica que tem de ser ultrapassada por professores, alunos e instituições educativas de forma a que ocorra um processo de aprendizagem eficaz, deliberado e planeado. Os procedimentos para ultrapassar esta distância são de natureza interactiva e de concepção educativa e, para enfatizar que a distância é pedagógica e não geográfica, usamos o termo “distância transaccional” (Moore:1996).
Embora haja padrões definidos e reconhecidos, em EAD, não há dúvida que há uma variação enorme entre estratégias, técnicas e comportamentos de professores e alunos, a que estão subjacentes, como é óbvio, graus bem distintos de distância transaccional. A “distância transaccional” constitui então uma variável contínua e não discreta, um termo relativo e não absoluto, onde a relevância é atribuída ao facto do ambiente exercer um grande influência na interacção entre os actores. Como tal, a separação vai exigir por parte do professor planeamento, apresentação de conteúdos e acção de forma diferente dos processos presenciais.
Em educação à Distância, a interactividade é “crucial para o sucesso de um e-curso, pois promove o envolvimento dos alunos na aprendizagem.” (Northrup, 2002)
A comunicação mediada por computador, facilita e reforça a interacção desde que seja feita uma aposta clara nesse sentido. Moore (1993) identifica três formas de interacção:
· A interacção aluno/conteúdo tem a ver com o processo de interacção intelectual, com o conteúdo, de que resultam mudanças na compreensão do aluno.
· A interacção aluno/instrutor, reporta-se ao diálogo que existe entre o instrutor e o aluno, em que o instrutor facilita e orienta os alunos na construção do seu conhecimento motivando-os para a exploração dos conteúdos.
· A interacção aluno/alunos fomenta o diálogo dos alunos com os colegas, para análise, crítica, partilha e reanálise das ideias e das experiências, pressupondo uma aprendizagem construtivista.
Na realidade, o grau de transaccionalidade pode ser expresso através de três grupos de variáveis: o diálogo educacional, a estrutura do programa e a autonomia do aluno. Existe uma relação entre estas três variáveis, pois quanto maior a estrutura e menor o diálogo, num programa, maior autonomia o aluno terá que exercer.
Diálogo
O Diálogo engloba todas as interacções positivas entre professores e alunos e é utilizado com o objectivo de aperfeiçoar a compreensão do aluno.
É influenciado por vários factores, nomeadamente: as personalidades do professor e do aluno; “a filosofia educacional” e conteúdos programáticos subjacentes à aprendizagem; o ambiente de aprendizagem, nomeadamente o meio de suporta à comunicação , o número de alunos por professor, a frequência de oportunidades para a comunicação; o “ambiente emocional” estabelecido entre professor e aluno, ou seja a relação de respeito e consideração mútua desejável.
Processos baseados em correspondência são naturalmente menos propensos ao diálogo do que os baseados em tecnologias da informação e da comunicação, que permitem uma comunicação assíncrona, síncrona e multissíncrona.
É o factor mais determinante para a redução da distância transaccional.
De entre os meios de comunicação, os computadores pessoais (PC) e a videoconferência são os que permitem uma interactividade mais dinâmica com diálogo mais individualizado, personalizado e “intenso”, ajudando a transpor a distância transaccional.
Estrutura do programa
A estrutura do programa ou de um curso reflecte a organização dos elementos que o constituem, a rigidez ou flexibilidade dos objectivos de aprendizagem, dos conteúdos, das estratégias e metodologias do processo ensino/aprendizagem, documentação, exercícios, projectos, testes, os critérios de avaliação do programa. A estrutura define o modo como o programa melhor se adequa e responde às necessidades do aluno. Ela pode ser rígida, implicando, desde, a medição de tempos para alcançar determinados objectivos, à monitorização e controle dos processos de evolução ao longo do curso. Pode ter uma organização fixa e coordenação total entre actividades e documentação, etc.. Por outro lado, pode ser flexível permitindo que o aluno progrida ao seu ritmo, estudando o material quando lhe convier, submetendo as respostas quando considerar oportuno, adequando a flexibilidade à idiossincrasia do aluno: quanto maior a distância transaccional, maior autonomia é exigida ao aluno.
Num programa muito estruturado, com meios como a televisão ou gravador, a distância transaccional é grande pela ausência de diálogo professor-aluno. O caso dos cursos por teleconferência, que permitem um amplo diálogo entre professor e alunos, exigem menos estrutura.
Tal como o diálogo a estrutura é uma variável qualitativa. A sua extensão depende, dos meios de comunicação utilizados, dos regulamentos institucionais e das características individuais de aluno e professor.
Ou seja, num curso com pouca distância transaccional, o diálogo é mais forte permitindo que os alunos obtenham instruções e informação directamente do professor. Num curso com distância transaccional elevada, estas instruções são derivadas da estruturação. Assim a distância transaccional é inversamente dependente do diálogo e directamente dependente da estrutura:
A adequação da estrutura do programa exige à equipa pedagógica um elevado grau de atenção às características de aprendizagem do público-alvo e ao tipo de interacções a usar. Em todos os programas de educação a distância devem ser estruturados os seguintes processos:
1. Apresentação do informações, demonstrações, explicações.
2. Apoio à motivação do aluno para aprender, desenvolvendo a auto-motivação.
3. Estímulo à análise e à crítica sobretudo com alunos de frequência do ensino superior. Auxiliar o aluno na abordagem das questões, formulação de perguntas.
4. Aconselhamento e assistência aos alunos tanto na abordagem dos problemas pedagógicos como na utilização dos meios de comunicação.
5. Organização de prática, aplicação, testagem e avaliação – é necessária a apresentação de trabalhos escritos por parte do aluno, que irão ser avaliados pelo professor que por sua vez dá um feedback incentivador à melhoria do trabalho do aluno.
6. Organização para a construção do conhecimento por parte do aluno – aqui o uso do computador é fundamental para o desenvolvimento da interacção entre professor e aluno na construção colaborativa do saber ou conhecimento.
Autonomia do aluno
Segundo Moore, a “autonomia do aluno” , é uma medida que permite que seja o aluno e não o professor a determinar os seus objectivos de aprendizagem (1992). Este era um ideal que pressupunha que os alunos fossem total e emocionalmente autónomos. Tal comportamento para Malcolm Knowles, deveria ser natural para o adulto, que constitui, na verdade, o tipo de pessoa, que já tem o seu próprio conceito de independência. No entanto por norma, os adultos “não estão preparados para uma aprendizagem independente; precisam de atravessar um processo de reorientação para aprenderem como adultos”. (knowles 1970)
Keegan, Moore defendeme a necessidade de os “alunos compartilharem a responsabilidade dos seus próprios processos de aprendizagem”. A autonomia do aluno tem a ver com a capacidade que este tem, perante os conteúdos programáticos do curso, de estabelecer os seus próprios objectivos, metodologias e materiais a utilizar, bem como etapas e modos de avaliação da sua aprendizagem e aquisição de conhecimentos/competências.
Assim, como dissemos atrás, parece haver uma relação entre o aluno autónomo que prefere programas bem estruturados, que depois vai gerir, e o aluno, a maioria, que prefere programas menos estruturados e mais dialógicos ou dialogantes, em que o professor vai adequando as metodologias e ritmos às necessidades do aluno.
Selecção e integração de meios de comunicação
Na apresentação de Keegan sobre a teoria da distância transaccional, a utilização do computador, nomeadamente da Internet, dadas as suas potencialidades interactivas e de comunicação, é referida como o melhor meio para a “veiculação dos processos de ensino: apresentação, motivação, desenvolvimento crítico e analítico, aplicação e avaliação e apoio ao aluno” no contexto de diálogo estruturado.
A Teleconferência
Com a introdução de novas tecnologias e de algumas ferramentas interactivas, nomeadamente a o áudio e o vídeo, todas as formas de educação a distância passaram a ter uma relação multilateral, envolvendo inumeros diálogos entre os vários participantes. A interacção aluno-professor é mais dialógica e menos estruturada. No entanto, os alunos não passam a ser mais autónomos, não porque o sistema não o permita mas porque ainda subsiste a presença dominante do professor.
Com professores mais progressistas é possível que a teleconferência se torne na metodologia que melhor reduz a distância, e também aumente a autonomia dos alunos.
Notas Conclusivas:
Ø Metodologias de ensino a distância são naturalmente adequados a alunos adultos e autónomos.
Ø Nem o diálogo, nem a transacção pedagógica ocorrem pela presença da mais nova geração de equipamentos que possibilitam a teleconferência. Tal só ocorre se as pessoas se comprometerem significativamente.
Ø A elaboração de um programa de ensino a distância requer uma equipa pedagógica composta por especialistas em conteúdos, designers, especialistas em meios e professores especializados. Deverão ter em conta não só o conteúdo mas também o público-alvo. O questionar os potenciais alunos poderá ajudar na estruturação do programa/curriculo.
Bibliografia Utilizada:
Keegan, D. (1993) Theoretical Principles of Distance Education, London: Routledge, p.22-38,traduzido por Wilson Azevêdo, http://www.abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=1por&infoid=23&sid=69 , em 20/12/2005
Lima, J. R. et al (2003), e-Learning e e-Conteúdos, Lisboa, Centro Atlântico
"Aumentando-se a Aproximação por meio de Actividades a Distãncia", http://www.aomestre.com.br/cyber/arquivo/cyber20.htm em 30/Jan/2006
Three Types of Interaction, http://www.campusaberto.univ-ab.pt/courses/EPEL4974/Moore89.mht em 25/Jan/2006
Moore, M.G. (1986), Learners and Learning at a Distance, In Proceedings: Second Teaching at a Distance Conference, Madison, Wisconsin. Department of Continuing and Vocational Education, pp. 8-45 (1986), http://www.ed.psu.edu/acsde/pdf/learners_learning.pdf
Moore, M.G., Learner Autonomy: The Second Dimension of Independent Study, Convergence Fall: 76-88 (1972), http://www.ed.psu.edu/acsde/pdf/learner_autonomy.pdf
Moore, M.G, Independent Study, In R. Boyd and J. Apps, eds. Redefining the Discipline of Adult Education. San Francisco: Jossey-Bass, pp. 16-31 (1980), http://www.ed.psu.edu/acsde/pdf/independent_study.pdf
Bibliografia sobre o Autor:
1. Distance Education in the Health Sciences. Readings in Distance Education, Number 8.
2. University Distance Education of Adults.
3. Learners and Learning at a Distance.
4. The Effects of Distance Learning: A Summary of Literature. Research Monograph Number 2.
5. New Technology: Lessons from the Open University.
6. Purpose and Practice of Home Study in the 1990's.
7. Speculations on a Definition of Independent Study.
8. Is Teaching Like Flying? A Total Systems View of Distance Education.
9. Tips for the Manager Setting Up a Distance Education Program.
10. The 1995 Distance Education Research Symposium: A Research Agenda.
11. Distance Education for Corporate and Military Training. Readings in Distance Education, Number 3.
12. Speaking Personally about Distance Education: Foundations of Contemporary Practice. Readings in Distance Education, Number 6.
13. Web-Based Communications, the Internet, and Distance Education. Readings in Distance Education, Number 7.
14. The American Symposium on Research in Distance Education. Report (2nd, University Park, Pennsylvania, May 22-24, 1991).
15. Counselling in Teaching at a Distance. A Bibliography of Articles.
16. Communications Media and Adult Education in Wisconsin. A Discussion Paper.
17. International Dimensions of Distance Education: A Perspective from the British Open University.
18. Toward a Theory of Independent Learning and Teaching
19. Learner Autonomy: The Second Dimension of Independent Learning
20. Surviving as a Distance Teacher.
21. Distance Education: A Learner's System
22. Recruiting and Retaining Adult Students in Distance Education.
23. Telecommunications, Internationalism, and Distance Education
24. Print Media.
(Texto colaborativo produzido pela Equipa Moore, usando o writely)